30.11.11




Sacrifício heroico

Se eu precisar acionar o detonador,
Esse mundo não será salvo;
Deus não se importaria com tal bobagem;

Está lá, alheio a tudo o que amo,
Bom demais para caminhar entre os animais;

Vou correr em direção aos tanques
E levantar uma bandeira branca;
Mas isso não é paz e sim rendição,
Logo seremos escravos e saqueadores;

Se eu precisar puxar o gatilho,
Não haverá uma carta e nem razões;
O diabo não se importaria com tal bobagem;

Está aqui, oferecendo-me tudo o que amo,
Mas eu não seria tão simplório e barato;

Você não pode ver o meu quarto,
Estou olhando as minhas coisas agora;
Será que elas ainda existem? E eu?
Obrigado por não me deixar falando sozinho;

13.10.11



Haverá Paz Quando Você Terminar

Continue filho desobediente,
Aprenda com os humanos
Esse trágico livre-arbítrio;

O fato é que também afastei-me
De todo barulho e confusão,
Para dar uma espiada por cima
E olhar além dessa mentira;

Apenas uma maçã mordida?
Não importo-me com o saber,
Eu fui um anjo de classe baixa;
Lucífer e Miguel irão se matar;

Eu estarei lá rindo dos infelizes,
Morrendo quantas vezes precisar,
Porque é só o que posso fazer;

Um a um eu tornei tenentes,
Todos os meus bons e leais soldados;
Eis aí, um batalhão de maus homens;

Não brinque com urânio enriquecido
E não coma chocolate até a morte,
Minha pequena e inocente criança;

És livre para fazer o que quiser,
Mas não pode fazer o que quiser;

Hoje falo que não tenho mais fé;
Não lembro a última vez que orei
E odeio saber que o desespero,
Poderá um dia deixar-me de joelhos;

Mas continue você sabe o que faz
E eu quero o mundo do jeito que está;

19.7.11





Do papel para a lápide

E lá estava o triste fim pertencente aos mortais;
Um homem que se fundia a Gaia naquele dia chuvoso;
Sobre este poucos eram os que lamentavam a ida;
Não quero deixar somente essas pequenas saudades;

De todas as formas tento manter-me vivo:

Nas palavras de um livro repleto de verdades,

Nas cenas de um filme para o brilho dos olhos,

Na melodia de uma canção que compus deprimido

E nos trejeitos dos meus filhos e naqueles que cativei;

Não gosto das coisas que falo quando estou sóbrio;
Acho que falta-lhes certa audácia nos sentimentos;

Todo homem esclarecido só deve ter medo da morte;
Ainda não pretendo começar a criar a frase do meu epitáfio;

Quanto à lei da compensação: A ambição exige uma renuncia;
Devo deixar-me beirar a loucura para estar entre os grandes;
Mas o fato é que nunca consegui perder o controle da situação;

Quem sabe o vento possa levar as minhas cinzas ou então:

“Não espero nada,

Não temo nada,

Sou livre;”

6.6.11



Para novas manhãs e outros insanos poetas

Bebo um café e fecho os olhos,
Mas o papel ainda está em branco;

O espelho nos diz certas verdades
E ultimamente eu venho quebrando alguns;

Devoção? Sinceramente eu não conheço;
Simpatizaria com Baco ou Dionísio:
Dias em que acordo com pouco pudor;

Das coisas que podem destruir um homem:
O jogo leva o dinheiro e a bebida à lucidez;
Mas o pior e mais agradável dos vícios
É linda e capaz de acabar com os dois;

Sete é um numero insignificante,
Pecado mesmo seria deixar de fazê-lo:
Dias em que acordo um canalha;

Ah! Diga-me pobre criatura perdida,
Somos ou não bons atores?
Falamos de sentimentos nunca sentidos,
Interpretamos situações jamais vividas;

E por um verso eu saio dos trilhos:

Mesmo que ninguém de importância,
Esse pedaço de nós ficará guardado,
Como retrato do que fomos um dia;
Então escreva bobagens e mostre-me quem és;

Retornando... Ou não;

Venderia minha alma para quem pagasse mais caro,
Como um destes suicídios involuntários:
Dias em que acordo com o que sobrou do orgulho;

Não sou exatamente o que eu escrevo;
Talvez só os detalhes e nada mais;
Isso é o que acontece quando não estamos inspirados;

25.4.11



Colheita

Hoje meus dias são noites
E às noites um renascer,
Mas isso nunca teve ordem
Ou sequer importância;

Abri mão do meu coração
E de outras coisas mais,
pelas quais deve-se viver;

Prever a queda do granizo
Tem sido o meu exercício;

Onde escondem-se as pragas
Que consomem minhas safras?

Não espero voltar ao pó
E sim apenas abrir a urna,
Alma e sombra da velha figueira;
Talvez eu possa vencer o asfalto;

Depois de passar o dia nos campos,
A tarde ganhou o meu jeito:
Nuvens pesadas surgem ao leste,
Os corvos vestem-se de luto;

Permanecem o simbolismo divino
E as virgens longe dos punhais;