"O esplendor da relva só pode mesmo ser percebida pelo poeta. Os outros pisam nela. Um mérito inegável da poesia: ela diz mais e em menor número de palavras que a prosa" Voltaire
30.11.11
Sacrifício heroico
Se eu precisar acionar o detonador,
Esse mundo não será salvo;
Deus não se importaria com tal bobagem;
Está lá, alheio a tudo o que amo,
Bom demais para caminhar entre os animais;
Vou correr em direção aos tanques
E levantar uma bandeira branca;
Mas isso não é paz e sim rendição,
Logo seremos escravos e saqueadores;
Se eu precisar puxar o gatilho,
Não haverá uma carta e nem razões;
O diabo não se importaria com tal bobagem;
Está aqui, oferecendo-me tudo o que amo,
Mas eu não seria tão simplório e barato;
Você não pode ver o meu quarto,
Estou olhando as minhas coisas agora;
Será que elas ainda existem? E eu?
Obrigado por não me deixar falando sozinho;
13.10.11
Haverá Paz Quando Você Terminar
Continue filho desobediente,
Aprenda com os humanos
Esse trágico livre-arbítrio;
O fato é que também afastei-me
De todo barulho e confusão,
Para dar uma espiada por cima
E olhar além dessa mentira;
Apenas uma maçã mordida?
Não importo-me com o saber,
Eu fui um anjo de classe baixa;
Lucífer e Miguel irão se matar;
Eu estarei lá rindo dos infelizes,
Morrendo quantas vezes precisar,
Porque é só o que posso fazer;
Um a um eu tornei tenentes,
Todos os meus bons e leais soldados;
Eis aí, um batalhão de maus homens;
Não brinque com urânio enriquecido
E não coma chocolate até a morte,
Minha pequena e inocente criança;
És livre para fazer o que quiser,
Mas não pode fazer o que quiser;
Hoje falo que não tenho mais fé;
Não lembro a última vez que orei
E odeio saber que o desespero,
Poderá um dia deixar-me de joelhos;
Mas continue você sabe o que faz
E eu quero o mundo do jeito que está;
19.7.11
Do papel para a lápide
E lá estava o triste fim pertencente aos mortais;
Um homem que se fundia a Gaia naquele dia chuvoso;
Sobre este poucos eram os que lamentavam a ida;
Não quero deixar somente essas pequenas saudades;
De todas as formas tento manter-me vivo:
Nas palavras de um livro repleto de verdades,
Nas cenas de um filme para o brilho dos olhos,
Na melodia de uma canção que compus deprimido
E nos trejeitos dos meus filhos e naqueles que cativei;
Não gosto das coisas que falo quando estou sóbrio;
Acho que falta-lhes certa audácia nos sentimentos;
Todo homem esclarecido só deve ter medo da morte;
Ainda não pretendo começar a criar a frase do meu epitáfio;
Quanto à lei da compensação: A ambição exige uma renuncia;
Devo deixar-me beirar a loucura para estar entre os grandes;
Mas o fato é que nunca consegui perder o controle da situação;
Quem sabe o vento possa levar as minhas cinzas ou então:
“Não espero nada,
Não temo nada,
Sou livre;”
6.6.11
Para novas manhãs e outros insanos poetas
Bebo um café e fecho os olhos,
Mas o papel ainda está em branco;
O espelho nos diz certas verdades
E ultimamente eu venho quebrando alguns;
Devoção? Sinceramente eu não conheço;
Simpatizaria com Baco ou Dionísio:
Dias em que acordo com pouco pudor;
Das coisas que podem destruir um homem:
O jogo leva o dinheiro e a bebida à lucidez;
Mas o pior e mais agradável dos vícios
É linda e capaz de acabar com os dois;
Sete é um numero insignificante,
Pecado mesmo seria deixar de fazê-lo:
Dias em que acordo um canalha;
Ah! Diga-me pobre criatura perdida,
Somos ou não bons atores?
Falamos de sentimentos nunca sentidos,
Interpretamos situações jamais vividas;
E por um verso eu saio dos trilhos:
Mesmo que ninguém de importância,
Esse pedaço de nós ficará guardado,
Como retrato do que fomos um dia;
Então escreva bobagens e mostre-me quem és;
Retornando... Ou não;
Venderia minha alma para quem pagasse mais caro,
Como um destes suicídios involuntários:
Dias em que acordo com o que sobrou do orgulho;
Não sou exatamente o que eu escrevo;
Talvez só os detalhes e nada mais;
Isso é o que acontece quando não estamos inspirados;
25.4.11
Colheita
Hoje meus dias são noites
E às noites um renascer,
Mas isso nunca teve ordem
Ou sequer importância;
Abri mão do meu coração
E de outras coisas mais,
pelas quais deve-se viver;
Prever a queda do granizo
Tem sido o meu exercício;
Onde escondem-se as pragas
Que consomem minhas safras?
Não espero voltar ao pó
E sim apenas abrir a urna,
Alma e sombra da velha figueira;
Talvez eu possa vencer o asfalto;
Depois de passar o dia nos campos,
A tarde ganhou o meu jeito:
Nuvens pesadas surgem ao leste,
Os corvos vestem-se de luto;
Permanecem o simbolismo divino
E as virgens longe dos punhais;
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