16.10.16

Deixei dormir até mais tarde
Por Jr Larethian

Meu coração sobrevive;
Esqu(ínas)
Teores
De conversas e álcool;
O que não posso prever,
É como magma resfriando aos poucos;

Casca dura,
Jamais maciço;
Sabe que a vida precisa entrar,
Que traiçoeira é a sorte
E que o poeta cansou de ser pobre;

Minha razão em declive;
Ru(ínas)
Contratos
De segredos e alma;
Você coloca-me direções
Mas só há o que precisa ser feito;

Cirúrgico,
Sempre em silencio;
Que se torne non grata,
Que o abismo te olhe
E nunca consiga saber o que vê;

27.8.15



Despertar

Não vi quando começou;
Eram esboços e planos,
O anos que me escapavam
Em cada sol do meio dia;

Ancorado;


Não bate na porta,

Não cai do céu,
Não sorri;
A sorte não marca hora;

Embora saiba acordar,

Um sonho não basta,
Uma ideia é nada,
Queremos o tato,
O fato;

Acelerado,


Suor e estrada;

Meu chão é brasa,
O tempo é caro,
Raro,
O pódio é a recompensa;

Não sei quando irá terminar;

São ações e certezas,
Os segundos eu levo bem presos
Pra saber onde os deixei;

5.3.14

O primeiro poema do ano

Março;
Em seguida,
As chuvas;

Corta-se e emenda-se a fita do tempo;
Logo,

Não é demasia,
É um ano a menos,
Nunca a mais;
E sempre é tarde;

Manter,
Os estudos,
A dieta;

Diminuir,
A bebida,
As dividas;

Parar,
De fumar,
De idealizar o amor;

Viver é nunca ter de esperar;
Mas a gente espera sem ver,

E o rever torna-se também reviver;

16.12.13

Quando fechar os olhos

Durante muito tempo eu tive o mesmo pesadelo;
Tentando perder o medo,
Querendo aprender o caminho,
Esperando o momento de acordar para dentro;

Quantos rostos,
Quantos lugares,
Imagens que nada significam,
Ou falam num idioma inteligível;

Uma interpretação livre:
Sobre as ruins?
- Mantenha teus sonhos longe do meu amanhã;

Durante muito tempo eu tive o mesmo pesadelo;
Sons que não pertencem mais aos ouvidos;
Atravessam a realidade,
Percorrem a noite,
Modificam o quarto;

Escondem-se sob as pálpebras,
Onde somente eu posso escuta-los,
Posso gritar,
Posso correr,
Ainda que em vão;

Durante muito tempo eu tive o mesmo pesadelo;
Mas hoje sinto vontade de voltar,
De gravar,
De ver os detalhes;

São as minhas bobagens,
São as minhas vontades.

São os meus segredos;

24.11.13


A ultima morena dos meus dias nublados

Eu caminhei pelas ruínas do mundo,
Procurando a ultima morena dos meus dias nublados;
Lá, o som transformava-se em imagens;
Eram claves, eram corvos, eram ninfas,
Era o lírico e o libreto de uma opera obscura;

Diziam que ela andava sobre a neve,
Diziam que ela tinha a pele como a neve;
Talvez, o branco, a sombra, o contraste,
Outras cores ainda vibravam nas ruas,
Mas havia algum mistério no charme de dizer,
Morena;

Eu caminhei pelas terras cobertas de gelo,
Procurando a ultima morena dos meus dias nublados;
Lá, o frio tinha o efeito contrario;
Eram paixões, eram pecados, eram desejos,
Era o All star e a franja que caia sobre o olho direito;

Diziam que tornava-se noite, tudo o que ela tocava,
Diziam que ela tinha um quê de anjo caído;
Quem sabe, era um sonho, um delírio, a quintessência;
Outras cores ainda vibravam nas ruas,
Mas era como o mais prazeroso dos vícios dizer,

Morena;

21.11.13

Três efeitos de uma certa ruiva

A luz.

Verdes ou azuis, mudava a cor dos olhos;
Olhos que não se esquivam, que penetram, que derrotam;
Vermelhos ou alaranjados, mudava a cor dos cabelos;
Cabelos que prendia, que soltava, que enlouqueciam;
Mas os cabelos não mentem, diferente dos olhos;
Esse era o efeito da luz sobre ela;

A primavera.

Havia o nascer e o por do sol;
Sol, melhor analogia;
Pássaro liberto, o topo das cordilheiras, sardas;
Não era rara e às vezes, não parecia ser real;
Esse era o efeito da primavera sobre ela;

O diabo.

Queimava todas as cores, queimava o preto e o castanho,
Queimava todos os anjos;
Eu sou o teu inferno, dizia ela;
E você trocaria o paraíso mil vezes pelo meu abraço;
Esse era o efeito do diabo sobre ela;


Talvez, ela fosse a própria luz, a primavera e o diabo;

Porque esse era o efeito dela sobre mim.


10.1.13


Gitana

Sobre amores e lugares:
O meu coração é nômade;

E assim chegou:
De um dia para outro;
Trazia um mundo nos braços,
Canções e lembranças e pessoas
Mais importantes do que eu;

Um dia calmo?
Nem tanto;
Fiz meu próprio funeral;
Minhas cinzas,
Meus pertences,
Meu passado;

Alguém guardou meus olhares
E meus trejeitos;

Negociamos sorrisos,
Mas não lemos as mãos;
Ela tem algo entre a lua e o punhal
E joga bem com as cartas marcadas;

E assim se foi:
De uma vida para outra;
Pois não é mais possível ir,
Sem levar o que quer de nós;

Sobre danças e fogueiras:
O meu coração é o vento;

27.2.12




Você tem que se acostumar com a dor,
Deixa-la fazer parte de você;
Ela será com um anticorpo,
Ela será o seu gatilho;

17.1.12



19

Eu conheço o meu lugar
E desconheço os teus segredos;

Mas sei roubar-lhe um sorriso,
Olhar nos olhos e ouvir;

Comédia romântica?
Gostaria que fosse pelos finais;

Mútuo?
Não tenho esse privilégio;

No meu desafortunado coração,
Amor nunca conheceu a sorte;

Restam essas palavras que
Lembra-me a sina de antigos reis:

- Mostre o seu valor,
Mereça,
Conquiste;

Então,
Que seja encantamento,
Aquela pausa no tempo e o foco;

E sim,
Eu precisei de muita estratégia
Para te encontrar assim por acaso;

Eu sei que os anjos caem,
Porque um caiu na minha cidade;

30.11.11




Sacrifício heroico

Se eu precisar acionar o detonador,
Esse mundo não será salvo;
Deus não se importaria com tal bobagem;

Está lá, alheio a tudo o que amo,
Bom demais para caminhar entre os animais;

Vou correr em direção aos tanques
E levantar uma bandeira branca;
Mas isso não é paz e sim rendição,
Logo seremos escravos e saqueadores;

Se eu precisar puxar o gatilho,
Não haverá uma carta e nem razões;
O diabo não se importaria com tal bobagem;

Está aqui, oferecendo-me tudo o que amo,
Mas eu não seria tão simplório e barato;

Você não pode ver o meu quarto,
Estou olhando as minhas coisas agora;
Será que elas ainda existem? E eu?
Obrigado por não me deixar falando sozinho;

13.10.11



Haverá Paz Quando Você Terminar

Continue filho desobediente,
Aprenda com os humanos
Esse trágico livre-arbítrio;

O fato é que também afastei-me
De todo barulho e confusão,
Para dar uma espiada por cima
E olhar além dessa mentira;

Apenas uma maçã mordida?
Não importo-me com o saber,
Eu fui um anjo de classe baixa;
Lucífer e Miguel irão se matar;

Eu estarei lá rindo dos infelizes,
Morrendo quantas vezes precisar,
Porque é só o que posso fazer;

Um a um eu tornei tenentes,
Todos os meus bons e leais soldados;
Eis aí, um batalhão de maus homens;

Não brinque com urânio enriquecido
E não coma chocolate até a morte,
Minha pequena e inocente criança;

És livre para fazer o que quiser,
Mas não pode fazer o que quiser;

Hoje falo que não tenho mais fé;
Não lembro a última vez que orei
E odeio saber que o desespero,
Poderá um dia deixar-me de joelhos;

Mas continue você sabe o que faz
E eu quero o mundo do jeito que está;

19.7.11





Do papel para a lápide

E lá estava o triste fim pertencente aos mortais;
Um homem que se fundia a Gaia naquele dia chuvoso;
Sobre este poucos eram os que lamentavam a ida;
Não quero deixar somente essas pequenas saudades;

De todas as formas tento manter-me vivo:

Nas palavras de um livro repleto de verdades,

Nas cenas de um filme para o brilho dos olhos,

Na melodia de uma canção que compus deprimido

E nos trejeitos dos meus filhos e naqueles que cativei;

Não gosto das coisas que falo quando estou sóbrio;
Acho que falta-lhes certa audácia nos sentimentos;

Todo homem esclarecido só deve ter medo da morte;
Ainda não pretendo começar a criar a frase do meu epitáfio;

Quanto à lei da compensação: A ambição exige uma renuncia;
Devo deixar-me beirar a loucura para estar entre os grandes;
Mas o fato é que nunca consegui perder o controle da situação;

Quem sabe o vento possa levar as minhas cinzas ou então:

“Não espero nada,

Não temo nada,

Sou livre;”

6.6.11



Para novas manhãs e outros insanos poetas

Bebo um café e fecho os olhos,
Mas o papel ainda está em branco;

O espelho nos diz certas verdades
E ultimamente eu venho quebrando alguns;

Devoção? Sinceramente eu não conheço;
Simpatizaria com Baco ou Dionísio:
Dias em que acordo com pouco pudor;

Das coisas que podem destruir um homem:
O jogo leva o dinheiro e a bebida à lucidez;
Mas o pior e mais agradável dos vícios
É linda e capaz de acabar com os dois;

Sete é um numero insignificante,
Pecado mesmo seria deixar de fazê-lo:
Dias em que acordo um canalha;

Ah! Diga-me pobre criatura perdida,
Somos ou não bons atores?
Falamos de sentimentos nunca sentidos,
Interpretamos situações jamais vividas;

E por um verso eu saio dos trilhos:

Mesmo que ninguém de importância,
Esse pedaço de nós ficará guardado,
Como retrato do que fomos um dia;
Então escreva bobagens e mostre-me quem és;

Retornando... Ou não;

Venderia minha alma para quem pagasse mais caro,
Como um destes suicídios involuntários:
Dias em que acordo com o que sobrou do orgulho;

Não sou exatamente o que eu escrevo;
Talvez só os detalhes e nada mais;
Isso é o que acontece quando não estamos inspirados;

25.4.11



Colheita

Hoje meus dias são noites
E às noites um renascer,
Mas isso nunca teve ordem
Ou sequer importância;

Abri mão do meu coração
E de outras coisas mais,
pelas quais deve-se viver;

Prever a queda do granizo
Tem sido o meu exercício;

Onde escondem-se as pragas
Que consomem minhas safras?

Não espero voltar ao pó
E sim apenas abrir a urna,
Alma e sombra da velha figueira;
Talvez eu possa vencer o asfalto;

Depois de passar o dia nos campos,
A tarde ganhou o meu jeito:
Nuvens pesadas surgem ao leste,
Os corvos vestem-se de luto;

Permanecem o simbolismo divino
E as virgens longe dos punhais;

21.11.10



Equilíbrio

Tênue e ainda vital,
A linha que define
Complexidades de alma;

Dos gêneros librados,
O eu mais improvável;

Como olhar o espelho
E vê-lo refletido nos
Seus olhos novamente;

Minhas olheiras denigrem
Um escasso brilho:
Porém olhos e espelho
Refletem-se ao incontável;

É o consistir em vontade:
Talvez de vida e morte,
Ou então bem e mal;
Busca-se o que ser aqui;

Trago dois destinos
E deixo um terceiro
Guardado no silencio;

Logo tudo envelhecerá,
Pessoas e estátuas,
Como às ruas do centro...

Em um dos destinos
Que é para o invisível;

13.11.10



Andarilho

Não sei do meu tempo;
Conheço apenas horizontes,
Infinitos e inalcançáveis;

Intrínseca é essa gana,
De algumas léguas de mundo
E toda a poeira nas botas
É só o efeito dos rastros;

Pois o que carrego na mochila
É o caminho de volta pra casa;

Quem sabe a retórica do vento,
Para os tantos vagões europeus;

Onde olhares são metódicos,
Porem os beijos incoerentes;

Bebi cerveja com bárbaros,
Nas estradas rumo ao norte;
Fiz discursos aos lordes,
Com um quê de enólogo;

Sobre a sina dos viajantes?
Sentir e deixar saudades;
Aprender a guardar pra si,
Os seus silêncios de espera;

Vejo o nascer e o por do sol,
Sempre na mesma direção;

27.9.10




Quase Pecado

Ah! Esse nosso
Cinismo desleixado:
Um tom de escárnio
E outro de enfado;

Lagrimas verdadeiras
Para o choro falso;
Às pessoas passam:
Os dogmas acabam;

Será esta ânsia vã?
Meus bons momentos
Levam o teu jeito;

Bobagens escritas,
Nas linhas do teto;

Sagazes e libertinos,
Dia e noite revezan-se
Através das frestas;

Somos meros anjos,
Ociosos e decadentes;

Ah! Essa nossa
Excentricidade sã:
Um tom de indiferença
E outro de soberba;

1.9.10




Cinema Mudo

É assim que os domingos
Deixam de se arrastar;
Falam-me de artifícios
Nas imagens que vejo;

Quem entende o feitiço,
No mistério que chega?
Ao lado da novidade,
É quase uma emulação;

Uma pequena cidade,
Pra ser alma e grandeza;
Outra época qualquer,
Ainda em preto e branco,

Vemos girarem às fotos,
Para os segundos eternos;

Protagonistas perdidos
Entre às cenas mudas;
Não somos bons atores;

Meu olhar precisa salvar
O que não foi ensaiado;

Quando sou um senhor,
Com chapéu e bengala,
Meio velho desconfiado
Sem o deslumbre pueril;

Vieram novos cartazes
E alguns dos teus sorrisos;

É assim que de súbito:
Impulsiona-se a vida
E inspiram-se cidadezinhas,
No coração dos poetas;

25.6.10



Música Ao Sol Nascente

Entre o céu e o abismo,
Está o nosso frágil lar;
Ponderação será plenitude?

Não leve por edênico
O jardim que lhe dei:
Lá, sempre haverá anjos
Desejando perder às asas;

Persuada-me com olhares;
Mostre-me algo à ser digno;

Ás vezes, pareço acreditar
Nessas minhas figurações;

E então, minha apoteose;
Estátuas cobertas de pátina?
Tens a quintessência como
Parte desse meu devaneio;

Lembro quando o “pra sempre”
Tornou-se pouco confiável;

Tenho canções ao arrebol
E alguns livros na estante
Para poder brincar de Deus;

13.5.10




Sobre Todas Às Coisas

Traz um pouco de muito
O nosso excêntrico saber;
Conversaremos por mil anos?

Ainda é cedo para mudar
Os teus olhos de agora;
Ontem aprendi sozinho
Este porvir improvável;

Procuro café e silêncio,
Enquanto deixo para depois;

Incompreensível filosofia:
Já enlouqueci uma vez;
Não gastei meus calçados;
Deixei os dedos na parede;

Por vezes, torna-se impérvia,
A cômoda serenidade indecisa;

Hoje encontro-me em casa,
Meus caros, bons e velhos;
Sem profanar o ordinário
Vinho, dos sagrados dias;

Vejo o além sem panorama;
Pretensioso é o meu empireo;

23.4.10



Epopéia De Marduk

Mito de si mesmo,
O ser antes do tempo;
Poemas e desertos na
Lua em quarto crescente;

O que contarão de você
Nas lendas que ouvirei?

Já não sei para quem
Escrevo minhas quiméras;

Mostre-me o insano
No absurdo esquecido;
Reveja tua crença provável;

Criamos com zelo;
Destruímos com ira;

Os filhos dos deuses
Serão nossos herdeiros;

Antecessoras de Homero,
Às tábuas hoje perdidas;
Danças ao fogo e vento,
Sem às primeiras razões;

6.4.10



O Arauto

Ofereça-me o que beber,
Em nome do que for;
Não há notícias de paz
Para os nossos filhos;

Posso improvisar sofismas;
Posso não voltar para casa;

Mas no que você acredita,
Mulher entre os faraós?
-À astúcia que mostra-me
Ignora devidas proporções-

Tenho feitos e tragédias
E sei como descrevê-las;

Irreversível, inevitável
O nosso coração pétreo;
Alguém observa o vilarejo
De homens despedaçados;

Um movimento temerário
Desprovido de confiança?
Diga para este mecenas
Não estender-me a mão;

Ainda posso esperar o vento
Capaz de levar este rumor;

13.3.10



Para Depois De Amanhã

Não avise-me deste
Nosso lúgubre outono;
Já foi determinado
O período de ascensão;

Deram-me às fábulas:
E compreendo as cigarras;

E todo este empenho
Em tempo desperdiçado
-No dia em que nasceu
Um momento operário-

A honesta simplicidade,
Será apenas honrável
Em sua senilidade;

Não incomode-se comigo;
Não fale-me de pecados
Enquanto sinto desprezo;

Por mais que seja preciso...

Nós esperamos demais
Da mesma primavera;

6.3.10



Panacéia

Nestes livros sagrados,
Oriente e ocidente
Pareceram-me iguais;
Meu bom amigo;

Vejo dor na esperança
E as cãs dessa história;

Suposições e manuscritos:
Cinzas da erudição
Perdida em Alexandria;

Sobre suas lágrimas
De unicórnio?
Nem ao menos à perfeita
Formula;

Poderia ser verdade;
Você mereceria tê-la;

Mas ainda lavo minhas
Mãos, antes de ver
O sangue escorrer;
Precisamos respirar;

Às vezes foge-me uma
Parte da humanidade;

É esse o nosso jeito;
E essa a nossa culpa;

26.2.10



A Catedral

Guarda ruas de pedra
Minha senhora Chartres,
A magnífica sombra
De dual sentimento;

Vitrais translúcidos,
Ilusórios mosaicos
E espíritos influídos;
A fé na escuridão;

Um semblante medievo,
Imponente, gótico,
Dourado régio portal,
Digno de reverência;

Tornei-me do rei à efígie,
Na prelazia enfraquecida,
Um olhar fidalgo entre
Carvalho, ecos e bronze;

Talvez cavaleiro, cruzado
Da ordem perdida em
Justas e belas cortesãs;

Mas tu ficaste no tempo,
Real, lendária, perpetua;

18.2.10



Uma Canção Perdida

Uma incorreção definida
Por palavra incomum,
Veio-me então criancice
Para o lugar do sábio
E esquecido traquejo;

O retrato sobre à mesa,
Um sorriso coberto de pó;
Noites de versos silentes
Sem àquela que é lira;

Vejo às pessoas pela rua;
Fim de tarde repetido,
Esperando o merecido choro;

Perdão por meia culpa?
Meu desejo e aflição;
Um gosto de fel que
Amarga junto ao orgulho;

O som da chuva calma,
Cadência de certas manhãs;

Sublime amor deste lado?
Vicissitudes da existência;

Novamente não me enganei,
Mas disse não me importar;
Ela já esteve desprotegida
Antes de haver um começo;

26.1.10



Um Lamento

Enfim contemplaremos
Tua secular obra;
Senhor que nos envelhece;

-Nossos vícios por ambição
Abandonada– E a virtude
Consumindo-se aos poucos;
Meu vagaroso pesar;

O que fazem os anjos
Quando Deus não está
Em casa?

Já nos faltam palavras
Em tempos de lamentações;
Salvo quem move às peças,
Somos um pulmão sem fôlego;

Sátiras cansadas desse negro
Humor dos profetas;

Temerosa sabedoria ao
Escrever o último livro;

Tomei a sina dos menestréis
Por seu espírito regresso;
Sinto não existir alguém que
Possa ao menos chegar tarde;

21.1.10



A Ilha

Mares desconhecidos
Em corações errantes;
Navego num veleiro
Batizado de Ethica Mores;

De águas profundas
Para algum lugar
Além da alma;
E o que somos realmente?

Trinta e dois ventos
Porfiam por nossa direção;
Quem não vislumbrou
A sombra do leviatã?

Tempestades fascinam
Ousados comandantes,
Mas enseadas merecem
Noites selênicas;

Eis o fanal que ilumina
Poucos homens;

Um pedaço de terra
Designando o complexo ser,
E o poente não é mais
Inalcançável;

São asas de albatroz
Escondidas sob as pálpebras;

20.1.10



Encruzilhada

Refletidas ou impetuosas,
Escolhas definem à sorte,
E as verdades sobre um
Homem de outrora;

De súbito far-se-ia liberto
O subjetivo das palavras;
- Uma recente aflição
Presa na garganta covarde –

Sobre deixar toda esperança...

Apenas quatro diretrizes
Como ensejo de resignação;
Talvez três anjos e um
Demônio por natureza humana;

O que será das mãos idôneas,
Quando os termos forem ignorados?

O fim que espreita à sombra dos anos,
Encontra primeiro os simplórios;

Irá um justo sangrar no inferno,
Quando tantos sangram no lugar
Onde estamos?

Pois ninguém cruzou os dolorosos
Círculos de renomados habitantes,
Em Malebolge se escondem os olhos
Negros da glória;

19.12.09



Morada Do Tempo

Não encontramos destinos
No antigo grimório;
Em branco estão às páginas
E os dias vindouros;

Então buscaram nas estrelas
Uma lógica inexata;
- Nas impressões exteriores
A influência é consciente –

Contorne à margem do rio;
Corra sobre o limo das pedras;
Em distâncias se faz o tempo
E atalhos exigem equilíbrio;

Previsões do que será
Sobre anseios de ser;
Às do oráculo cego
Falavam de lealdade;

E ninguém viu as costas
Do último erudito;
- Quando o mesmo subiu a
Montanha da sabedoria –

Restam incertos amanhãs,
E desconhecidos no espelho;
Quantos passos envelhecerão
Os nossos caminhos?

Ocultos princípios e fins,
Guardados na velha casa;
São concertos de cada vida,
Nas mãos do prodigioso regente;