26.1.10



Um Lamento

Enfim contemplaremos
Tua secular obra;
Senhor que nos envelhece;

-Nossos vícios por ambição
Abandonada– E a virtude
Consumindo-se aos poucos;
Meu vagaroso pesar;

O que fazem os anjos
Quando Deus não está
Em casa?

Já nos faltam palavras
Em tempos de lamentações;
Salvo quem move às peças,
Somos um pulmão sem fôlego;

Sátiras cansadas desse negro
Humor dos profetas;

Temerosa sabedoria ao
Escrever o último livro;

Tomei a sina dos menestréis
Por seu espírito regresso;
Sinto não existir alguém que
Possa ao menos chegar tarde;

21.1.10



A Ilha

Mares desconhecidos
Em corações errantes;
Navego num veleiro
Batizado de Ethica Mores;

De águas profundas
Para algum lugar
Além da alma;
E o que somos realmente?

Trinta e dois ventos
Porfiam por nossa direção;
Quem não vislumbrou
A sombra do leviatã?

Tempestades fascinam
Ousados comandantes,
Mas enseadas merecem
Noites selênicas;

Eis o fanal que ilumina
Poucos homens;

Um pedaço de terra
Designando o complexo ser,
E o poente não é mais
Inalcançável;

São asas de albatroz
Escondidas sob as pálpebras;

20.1.10



Encruzilhada

Refletidas ou impetuosas,
Escolhas definem à sorte,
E as verdades sobre um
Homem de outrora;

De súbito far-se-ia liberto
O subjetivo das palavras;
- Uma recente aflição
Presa na garganta covarde –

Sobre deixar toda esperança...

Apenas quatro diretrizes
Como ensejo de resignação;
Talvez três anjos e um
Demônio por natureza humana;

O que será das mãos idôneas,
Quando os termos forem ignorados?

O fim que espreita à sombra dos anos,
Encontra primeiro os simplórios;

Irá um justo sangrar no inferno,
Quando tantos sangram no lugar
Onde estamos?

Pois ninguém cruzou os dolorosos
Círculos de renomados habitantes,
Em Malebolge se escondem os olhos
Negros da glória;