13.5.10




Sobre Todas Às Coisas

Traz um pouco de muito
O nosso excêntrico saber;
Conversaremos por mil anos?

Ainda é cedo para mudar
Os teus olhos de agora;
Ontem aprendi sozinho
Este porvir improvável;

Procuro café e silêncio,
Enquanto deixo para depois;

Incompreensível filosofia:
Já enlouqueci uma vez;
Não gastei meus calçados;
Deixei os dedos na parede;

Por vezes, torna-se impérvia,
A cômoda serenidade indecisa;

Hoje encontro-me em casa,
Meus caros, bons e velhos;
Sem profanar o ordinário
Vinho, dos sagrados dias;

Vejo o além sem panorama;
Pretensioso é o meu empireo;

23.4.10



Epopéia De Marduk

Mito de si mesmo,
O ser antes do tempo;
Poemas e desertos na
Lua em quarto crescente;

O que contarão de você
Nas lendas que ouvirei?

Já não sei para quem
Escrevo minhas quiméras;

Mostre-me o insano
No absurdo esquecido;
Reveja tua crença provável;

Criamos com zelo;
Destruímos com ira;

Os filhos dos deuses
Serão nossos herdeiros;

Antecessoras de Homero,
Às tábuas hoje perdidas;
Danças ao fogo e vento,
Sem às primeiras razões;

6.4.10



O Arauto

Ofereça-me o que beber,
Em nome do que for;
Não há notícias de paz
Para os nossos filhos;

Posso improvisar sofismas;
Posso não voltar para casa;

Mas no que você acredita,
Mulher entre os faraós?
-À astúcia que mostra-me
Ignora devidas proporções-

Tenho feitos e tragédias
E sei como descrevê-las;

Irreversível, inevitável
O nosso coração pétreo;
Alguém observa o vilarejo
De homens despedaçados;

Um movimento temerário
Desprovido de confiança?
Diga para este mecenas
Não estender-me a mão;

Ainda posso esperar o vento
Capaz de levar este rumor;

13.3.10



Para Depois De Amanhã

Não avise-me deste
Nosso lúgubre outono;
Já foi determinado
O período de ascensão;

Deram-me às fábulas:
E compreendo as cigarras;

E todo este empenho
Em tempo desperdiçado
-No dia em que nasceu
Um momento operário-

A honesta simplicidade,
Será apenas honrável
Em sua senilidade;

Não incomode-se comigo;
Não fale-me de pecados
Enquanto sinto desprezo;

Por mais que seja preciso...

Nós esperamos demais
Da mesma primavera;

6.3.10



Panacéia

Nestes livros sagrados,
Oriente e ocidente
Pareceram-me iguais;
Meu bom amigo;

Vejo dor na esperança
E as cãs dessa história;

Suposições e manuscritos:
Cinzas da erudição
Perdida em Alexandria;

Sobre suas lágrimas
De unicórnio?
Nem ao menos à perfeita
Formula;

Poderia ser verdade;
Você mereceria tê-la;

Mas ainda lavo minhas
Mãos, antes de ver
O sangue escorrer;
Precisamos respirar;

Às vezes foge-me uma
Parte da humanidade;

É esse o nosso jeito;
E essa a nossa culpa;

26.2.10



A Catedral

Guarda ruas de pedra
Minha senhora Chartres,
A magnífica sombra
De dual sentimento;

Vitrais translúcidos,
Ilusórios mosaicos
E espíritos influídos;
A fé na escuridão;

Um semblante medievo,
Imponente, gótico,
Dourado régio portal,
Digno de reverência;

Tornei-me do rei à efígie,
Na prelazia enfraquecida,
Um olhar fidalgo entre
Carvalho, ecos e bronze;

Talvez cavaleiro, cruzado
Da ordem perdida em
Justas e belas cortesãs;

Mas tu ficaste no tempo,
Real, lendária, perpetua;

18.2.10



Uma Canção Perdida

Uma incorreção definida
Por palavra incomum,
Veio-me então criancice
Para o lugar do sábio
E esquecido traquejo;

O retrato sobre à mesa,
Um sorriso coberto de pó;
Noites de versos silentes
Sem àquela que é lira;

Vejo às pessoas pela rua;
Fim de tarde repetido,
Esperando o merecido choro;

Perdão por meia culpa?
Meu desejo e aflição;
Um gosto de fel que
Amarga junto ao orgulho;

O som da chuva calma,
Cadência de certas manhãs;

Sublime amor deste lado?
Vicissitudes da existência;

Novamente não me enganei,
Mas disse não me importar;
Ela já esteve desprotegida
Antes de haver um começo;

26.1.10



Um Lamento

Enfim contemplaremos
Tua secular obra;
Senhor que nos envelhece;

-Nossos vícios por ambição
Abandonada– E a virtude
Consumindo-se aos poucos;
Meu vagaroso pesar;

O que fazem os anjos
Quando Deus não está
Em casa?

Já nos faltam palavras
Em tempos de lamentações;
Salvo quem move às peças,
Somos um pulmão sem fôlego;

Sátiras cansadas desse negro
Humor dos profetas;

Temerosa sabedoria ao
Escrever o último livro;

Tomei a sina dos menestréis
Por seu espírito regresso;
Sinto não existir alguém que
Possa ao menos chegar tarde;

21.1.10



A Ilha

Mares desconhecidos
Em corações errantes;
Navego num veleiro
Batizado de Ethica Mores;

De águas profundas
Para algum lugar
Além da alma;
E o que somos realmente?

Trinta e dois ventos
Porfiam por nossa direção;
Quem não vislumbrou
A sombra do leviatã?

Tempestades fascinam
Ousados comandantes,
Mas enseadas merecem
Noites selênicas;

Eis o fanal que ilumina
Poucos homens;

Um pedaço de terra
Designando o complexo ser,
E o poente não é mais
Inalcançável;

São asas de albatroz
Escondidas sob as pálpebras;

20.1.10



Encruzilhada

Refletidas ou impetuosas,
Escolhas definem à sorte,
E as verdades sobre um
Homem de outrora;

De súbito far-se-ia liberto
O subjetivo das palavras;
- Uma recente aflição
Presa na garganta covarde –

Sobre deixar toda esperança...

Apenas quatro diretrizes
Como ensejo de resignação;
Talvez três anjos e um
Demônio por natureza humana;

O que será das mãos idôneas,
Quando os termos forem ignorados?

O fim que espreita à sombra dos anos,
Encontra primeiro os simplórios;

Irá um justo sangrar no inferno,
Quando tantos sangram no lugar
Onde estamos?

Pois ninguém cruzou os dolorosos
Círculos de renomados habitantes,
Em Malebolge se escondem os olhos
Negros da glória;

19.12.09



Morada Do Tempo

Não encontramos destinos
No antigo grimório;
Em branco estão às páginas
E os dias vindouros;

Então buscaram nas estrelas
Uma lógica inexata;
- Nas impressões exteriores
A influência é consciente –

Contorne à margem do rio;
Corra sobre o limo das pedras;
Em distâncias se faz o tempo
E atalhos exigem equilíbrio;

Previsões do que será
Sobre anseios de ser;
Às do oráculo cego
Falavam de lealdade;

E ninguém viu as costas
Do último erudito;
- Quando o mesmo subiu a
Montanha da sabedoria –

Restam incertos amanhãs,
E desconhecidos no espelho;
Quantos passos envelhecerão
Os nossos caminhos?

Ocultos princípios e fins,
Guardados na velha casa;
São concertos de cada vida,
Nas mãos do prodigioso regente;

12.11.09




Por Trás Do Silêncio

Austero será o caminho;
E eu posso apenas tentar:
Os que falam ao mundo
Sem dizer uma palavra;

Alguns fazem o mal,
Outros deixam acontecer;
Mas a vida tem pressa
Nas ruas de incertezas;

Então você se arrepende;
Mas o que foi dito?
Vejo claras as escolhas
Num quê de transcendência;

Confesso a hipocrisia justa,
Por tanto amor e egoísmo;
E os sentimentos tristes que
Apenas olham a vida de longe;

Por meu pequeno sentido,
Deixe-me então protegê-la;
Quem antes enlouqueceu,
Buscava minhas respostas;

Aos teus olhos,
Minhas verdades não valem cifras
- Sopros de anjo qualquer
Quando por elas permaneço -


As Cinzas Da Fênix

E hoje meu olhar
Faz-se horizonte,
Lonjuras medidas
Em tempo e confins;

Sinto a velha cicatriz
Dos que habitam com
Alma fenecida, ímpeto
De um instinto terreno;

E o ciclo não encerra;
Quanta vida existirá?
Tamanha gana ferina,
Cativa dentro da alma;

Os antigos se vão,
Sem ver-me renascer;
Depois do fulgor não
Tenho mirra nem sálvia;

Um orgulhoso sangrar
Como última força;
Quando ainda pequeno
Deixei a morte em xeque;

11.11.09



Nossos Dias

Nas coisas que enfraquecem
Num tempo imensurável,
Somos nossos próprios traidores
Castigados por boas lembranças;

E quantas mentiras foram juradas,
Em utópicos pra sempre?
Palavras de um veneno amargo
Sendo provado sem pena;

E quantas desculpas foram
Caladas - Por simples orgulho?
É difícil abrir os olhos
Sempre que um sonho anda perto;

Furtiva lágrima prenunciando
Pesares em vã esperança,
Tentando fazer do destino,
Apenas um imenso acaso;

Me disseste que somos iguais
E que nos mataríamos no fim;
Mas um dia falei de amor,
E meus olhos eram sinceros;

29.10.09




Talvez Solidão

Há um silêncio em meus olhos,
Vigiando a paz dos fins inglórios;
Trago infindos lamentos na alma
Pra envelhecer os nossos erros;

Noites de vinho e todo o tempo
Desaparecem em meio a névoa
Da manhã cinzenta:

Meus lugares incompletos serão
Tempos idos pra se lembrar
Em sorriso e nostalgia;

Guardo saudades
No vazio dessas estradas,
Anseios esperando obscuro,
Aos poucos as vozes se acordam
Tão confusas e pequenas

São poucas as certezas
No muito pra sentir;
Sei que você está em algum inverno
E às vezes meus olhos gritam:
Mesmo sendo sussurros na imensidão;



Espelhos

A cegueira judicante morre sentada:
Enquanto a sentença ignora a verdade
Teu olhar não mais que leviano,
Reflete os meus passos distintos;

Então, quem porta um sonho,
Ainda tem o meu braço;
São as leis da minha casa,
E tavez o que restará;

Mas os insetos vivem
- pequenos infantes -
Conquistam a liberdade e não sabem
O que dela fazer;

E nesta visão tão ateísta
Compreendem o hedonismo?
Não perderam a fé num deus qualquer;

É quem espera o perdão não merecido:
O rebanho no largo corredor;

Qual a sombra do único medo,
Tornando-me o que odeio;
Pesadelo enquanto há escolha:

Ainda não somos mais do que
Nossas meras palavras;


Anjo Liberto

Da antiga legião sou apenas
Um mero vestígio - a cicatríz
Que me condena à falsa liberdade;

Não somos iguais
Mas temos o mesmo destino;

Por que se curvar a esses senhores,
Assinar com sangue a glória
Dos últimos dias?

Minha alma é dona de si,
Quando a indiferença não basta;

Tão injusta punição
- esta que é igual a todas -
Considerando tais razões;

Assim meus olhos transcendentes
enxergam um terceiro caminho:

Uma nova alvorada como esperança,
No horizonte que ainda me fascina;



Outra Tempestade

Sonhos indolentes
Levados pelo vento:
Prenúncio de fim dos tempos?

Nada me parece insólito.
E as mentiras serão nuvens
No desabar do mundo;

Sentimentos lúgubres
Replenaram o coração dos homens;
Eis tua noite de julgamento:

Trovões são a coléra dos céus
E a chuva não veio lavar as almas;

Aos intrépidos, profundo temor:
Pois dura é a nossa verdade
E tão alheio é o caos;

Deixe-me apenas contemplar
Este céu em teus olhos:

Justo o bastante pra dormir,
Essa noite...

28.10.09




Ruínas

E no fim da estrada apenas
Solidão,
A ambiciosa sina cobrando
Seu preço;

O abismo a um passo
E as vozes lá em baixo
Desejando o meu salto;

Como encontrar o caminho,
Se as migalhas são pegadas
Na areia?

Sinto o início distante,
E a coragem,
Há muito me abandonara;

Preciso cruzar as ruínas
Do mundo,
Mas o começo está disfarçado;

Frente aos fantasmas,
Voltar ao passado
É seguir na direção do fim,

Quando uma escolha torna-se
Seu algoz;

Forço o sorriso a esconder
O furor,

No suplício de pedir aos anjos
Que me empurrem,

Por alguém amenizo a culpa
E apenas sinto o vento;

26.10.09



Morrigan

O primor de um anjo ao desistir
Das asas,
És a noite deusa pagã;

Por caminhos de rosas negras,
Sigo teus rastros;

Em momentos pra contemplar
A beleza que há nas sombras;

Quantos segredos teus olhos
Escondem?
Janelas fechadas guardam tua alma;

Trazes malícias por instinto
Nas manhas do sorriso:
Glória e ruína dos homens;

Atrai-me em carne um místico feitiço,
Teus gestos lúbricos devassam meus
pensamentos;

Minha crença humana foge em tua
Presença:

Onde meus desejos são teus,
Ainda que soberbos;



Velho Mundo

Carrego a espada entre meus versos
Pra sentir na poesia a tua guerra;
Finado tempo onde o fim era distante
Por nosso olhar virtuoso;

Não pelo engano tão clérigo e pagão,
Ao nobre em alma e gestos longe
Dos seus,

Ainda espera reviver palavras
Honradas aos nossos dias covardes;

Eu conheço a calma da imensidão
E o sentimento simples e eterno;
Estando além do futuro de engrenagens
Que nada podem sentir;

Resista por nós homens ainda bardos:
Tão fantasioso é o tempo já perdido;

E eu tento apenas relembrar tuas terras,
Hoje desconhecidas...

23.10.09



Olhos De Fran

Talvez fossem nossas as manhãs
No único lugar,
Os dias constantes que
Não seriam pra sempre:

Tão vago e silencioso era meu
Pensamento;

Por que teus olhos ainda iluminam
Minhas noites?
Não vejo os laços:

E hoje somos um tempo
Quase esquecido;

Não se pode apagar o passado,
Pois quem controla um sonho?
Volta o desejo nas palavras não ditas
E uma nova chance se vai;

Me sinto feliz no teu sorriso ao longe,
Tantas voltas dará o mundo,

E o destino será meu coração menos frio
Por guardar um sentimento;